Pessach 2020 Alexandre Brandão Amorim Shamash MOREJ Sefaradi

Por mais que nossas crenças sejam distintas , nossas preces são as mesmas .Aproveito esse período para dividir pensamentos voltados para o significado oculto , kabalístico , do que ficou como relato daquele tempo, daquilo que seria lembrado por milhares de anos como a páscoa e o que podemos tomar como ensinamento não literal e aplicar em nossas vidas , pois assim creio poder .
Sim, a saída dos Hebreus do egito foi rápida , depois da última praga . Anos de prisão e depois  uma liberdade a ser colocada em prática de uma forma súbita , sem poder olhar para trás , levando o que podia ser levado no próprio corpo e nas mãos; um pão que não deu tempo para fermentar e na cabeça a fé no futuro , isso como prelúdio para a travessia do mar vermelho .
Na vida do indivíduo não é difícil estarmos amarrados a uma espécie de prisão , as vezes nos colocando sob um cárcere físico , mental ou intelectual e por muitas vezes alimentados pela nossa própria permissividade . Porém por muitas vezes pensamos em largar tudo , deixar de lado , desejamos uma outra condição, mas sem nos atentarmos para o fato que a mudança de mundo é feita primeiramente de forma interna e que a terra prometida é também um lugar em nossa posição mental .
O pão sem fermentar , sem sal , duro , é também um pão resistente , o pão que fiz para essa Pessach a 5 dias atrás ainda é o mesmo , não me decepcionou na sua condição, no seu gosto e nem no seu aspecto . Um símbolo do ego não inflado , aquele que não nos trairá no dia seguinte , se mostrando mofado ou duro, é o que é, e podemos contar com a sua integridade no dia seguinte , nos mantendo alimentados pela pureza do sentir e do ser . Foi o pão ázimo que foi carregado . O ego sem tempo de ser inflado , o alimento básico que garantiria a caminhada até a abertura do mar vermelho.
A passagem pelo mar vermelho é o ápice da liberdade e ainda contou com seu fechamento sobre o exército egípicio arrependido de ter dado a liberdade , consolidando assim o sepultamento de tudo que foi ruim. Mas a passagem de uma condição a outra , nossa travessia do mar vermelho, pode ser a mudança de postura e o sepultamento das coisas que nos fizeram mal . O sepultamento abaixo de toneladas de água salgada , toneladas de real arrependimento , razão e fé.
Por muitas vezes , mesmo quando temos um entendimento inicial espiritual dessas passagens , pensamos e tomamos coragem de deixar tudo de lado e fugir para uma outra realidade , mas não é bem isso .
A saída do egito relacionada com a saída de uma condição de configuração de vida pode ser um entendimento apenas inicial dos fatos .
A liberdade é um aspecto mental ,ou se sente livre ou não . A falta desse sentir configura estar ou não livre , por mais que os aspectos exteriores indiquem o contrário. Essa saída interna do egito é a saída do "sentir-se preso ou não" . E para se alcançar a liberdade por muitas vezes não precisamos buscá-la distante . A nossa travessia mental e de postura do mar vermelho pode trazer o prazer e a liberdade dentro de nossas próprias vidas , sem buscar em outro lugar . Em nossa própria família , com nossas próprias esposas , companheiras , maridos , companheiros , filhos , filhas , amigos...esse deixar para trás o ruim , sepultar em toneladas de sal o equivocado pode acontecer agora e aqui . Moshé levou o seu povo para uma mudança mental e assim vemos ao longo da história, uma mudança de postura mental narrada dentro de mudanças geográficas e cotidianas . Esse símbolo do recomeço com o ego não fermentado é o que devemos guardar como essência desse periodo .
A fuga é antítese total de mudança . Aquela impensada e levada pelas paixões , essa , edificada nos preparativos da alma.
Desejo que as vidas sejam renovadas em cada casa , em cada lar e que a saída para os momentos de aflição sejam edificados pela mudança interna .
Alexandre Brandão.
Shamash Morej Sefaradi

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