Judaismo e dieta Vegetariana Alexandre Brandão Amorim Shamash MOREJ Sefaradi


Um dia desses , em uma conversa informal, um conhecido me perguntou se existe algum direcionamento no Judaísmo para a dieta vegetariana .
Naquele momento minha resposta foi bastante resumida , com a intenção somente de oferecer um retorno sem aprofundamento mais elaborado. Aqui , usarei daquele momento para aprofundar um pouco mais a minha resposta , agora, podendo também tirar dúvidas de outras pessoas.
Baseado na Torah , entendemos que a dieta primordial para o ser humano seria a dieta vegetariana porém não trata-se de um mandamento e sim de um direcionamento implícito.
As escrituras indicam dois grandes momentos da criação do Homem. Um desses momentos encontra-se em Bereshit ( Gênesis) 1:26 onde o Homem é criado e o Eterno ordena seu domínio sobre, em ordem crescente e de prioridade, os seguintes animais: Sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra. Nesse momento verificamos que existe uma ordem e essa ordem não foi aleatória e nem poderia ser. Veremos mais adiante o uso prático orientador desse registro. Ainda em Bereshit 2:9, o Eterno fez brotar da terra toda qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do bem e do mal. Aqui mais uma vez temos um direcionamento para a dieta Humana.
Em Bereshit 1:29 o Eternos diz: Eu vos tenho dado todas as ervas que produzem sementes, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento. Nesse momento o Eterno indica, sua primeira orientação, que a alimentação do Homem deveria ser exatamente essa, baseada   na dieta vegetariana. Esse foi o plano, o projeto inicial e o que entendemos como sendo um ato de retorno ao momento da criação e uma grande consideração ao projeto inicial do Eterno Criador. Ser vegetariano é um ato de adoração à ação do eterno, uma volta ao momento da criação da raça humana.
Nossa resposta não acaba por aí. A criação do Homem não foi nada simples, as orientações não foram seguidas , como sabemos . Em Bereshit 6, o Eterno presencia sua criação se corropendo e em Bereshit 6:5-7 o Eterno decide recomeçar sua criação. O dilúvio é anunciado, um grupo de Homens, uma parte de sua criação é selecionada, e Noach (Noé) e sua família é indicada a construir uma Arca e a levar para dentro dela espécies de animais na quantidade indicada.
Após a destruição de toda a criação, Noach e todos da Arca saem e recebem uma orientação em Bereshit 9:3 , onde é indicado que tudo que se move e vive servirá ao Homem de mantimento: assim como a vegetação verde. Nesse momento temos uma indicação de uma dieta mais abrangente, uma dieta que é fruto de um projeto inicial que não foi possível. Essa nova dieta indicada agora vai ser orientada por uma série de proibições, não mais indicação. Proibições de consumo de certos animais, do sangue, etc. O Homem nesse momento, é a criação que terá sobre si a responsabilidade pela seu próprio sucesso na comunhão com o Eterno. É a outra chance que perdura até hoje.
Sim é permitido no Judaísmo o consumo de diversas carnes, e a proibição de outras muitas,porém, deve-se seguir um rigoroso procedimento até essa carne chegar até a boca de quem se propõe a comê-la. A dieta inicial é considerada Parva, sem restrições, assim como os peixes com escamas e ovo de algumas aves permitidas. A dieta tornou-se mais livre, com mais possibilidades , porém com uma enorme responsabilidade com o cuidado, respeito e preparo desses animais permitidos.
O Grande Rabino (Rav) Kaduri, o último grande cabalista de nossos tempos, não comia carne alguma, apenas peixe em determinada época do ano. Viveu mais de 110 anos.
Eu particularmente também não me alimento com carne vermelha, nem sendo Kosher. Prefiro a dieta vegetariana com a inserção eventual de peixes e ovos. Peixes e ovos também considero dispensável, porém encontram-se na categoria Parva, permitidos , não passam pelo complexo sistema para torná-los Kosher, mais seguros, inclusive quanto a procedência.

No processo de abate Kosher , considerando a verdadeira observação procedimentar  do ato , ocorre a transcendência da existência do animal para um universo paralelo  que o integra nos parâmetros do plano da criação e de sua manutenção cósmica . O procedimento é   complexo, envolvendo a certeza absoluta da eficácia infalível do fio de corte do faca , passando pelo acompanhamento do oração correta, entoada sem falhas e a redução imediata da consciência , evitando a dor e o sofrimento . Mesmo antes , o animal que servirá para consumo humano , antes de se tornar alimento è examinado de forma profunda, criteriosa e detalhada para que os parâmetros sejam todos atendidos . A complexidade que envolve tudo isso, torna o consumo de carne, as permitidas, difícil , trabalhoso e de acesso restrito sem de nenhuma forma vulgarizar o ato alimentar . O consumo de carne é uma possibilidade, porém cheia de ressalvas e critérios.

A redução do consumo de carne é um caminho lógico a ser seguido. A sua ingestão é uma possibilidade para os momentos, tempos e espaços onde o consumo é premissa da própria sobrevivência e deve deixar de ser uma prática onde a ausência de seu consumo não coloca em risco a existência .

Não se trata de um discurso sobre o sofrimento animal e sim um discurso sobre os critérios que tornam o consumo de carne permitido, porém complexo e isso por si só já transfere para o animal toda a consideração e respeito, de forma prática.

A carne Kosher é “produzida” considerando toda a existência animal, pelo menos é assim que deve ser “ e não se limita apenas ao momento do “abate” e isso torna o consumo vulgar de carne algo extremamente abominável , irresponsável e em desacordo com quase 5.000 anos de tradição , tradição essa que influenciou diversas “religiões”. 


De uma forma resumida, o que tenho a dizer é que a dieta vegetariana é preferível à todas as dietas. Na impossibilidade , devemos inserir peixes de escamas, depois ovos de aves permitidas  e depois as carnes permitidas e de procedência Kosher. Para os que não sabem, carne Kosher é uma carne para o consumo que passou pelo procedimento de criação, abate e preparo estabelecido pela tradição oral Judaica, assim como o Eterno ordenou. Esse sistema respeita ao máximo os animais e garante a energia divina para nosso organismo .

Alexandre Brandão Amorim
Shemash MOREJ Sefaradi



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